Num mundo digital em que dados 3D são a principal fonte de comunicação, porque ainda utilizamos desenhos 2D? Qual o papel dos desenhos 2D, atualmente?
Por definição, um desenho 2D é um documento técnico que transmite informações sobre uma peça, como geometria, dimensões e tolerância aceitável. Durante décadas, essa definição permaneceu forte, mas nos ambientes de engenharia atuais, é evidente que o modelo 3D muitas vezes desempenha esse papel.
Qual é o papel dos desenhos?
Com o surgimento da modelagem 3D e dos sistemas de fabricação auxiliada por computador (CAM), alguns podem questionar a relevância e a necessidade dos desenhos 2D no ambiente de fabricação digital atual.
Pela ótica de engenheiros mais jovens, com uma carreira construída em torno de MBD, desenhos 2D e comunicação do projeto à fabricação, sempre houve uma pergunta que não queria calar: por que ainda são criados desenhos 2D estáticos em um mundo onde quase tudo se tornou digital? Afinal, os desenhos são objetos estáticos, capturados em um momento específico do ciclo de vida de uma peça que facilmente se torna desconectado, desatualizado e difícil de gerenciar. Pelo contrário, um modelo 3D e dados digitais estão sempre atualizados. Parece uma escolha óbvia comunicar-se com outras pessoas por meio de um modelo digital.
Para entender isso, tem uma série de 'perguntas e respostas interessantes' para se fazer, conforme você confere abaixo:
- Por que você precisa de um desenho?
- Preciso de um desenho para fazer meu trabalho, simples assim.
Eu então pergunto “por quê?” e isso geralmente é seguido por:
- Preciso revisar os requisitos e entender como fazer a peça.
- Tudo bem, faz sentido, então você usina a peça manualmente usando uma máquina analógica enquanto faz referência a todas as informações do desenho?
- Não, o sistema CAM utiliza o modelo 3D diretamente para programar a máquina.
- Ok, então por que você precisa de um desenho?
O que fazer?
E acabamos no mesmo ciclo não resolvido sobre se os desenhos estão sendo criados para fins reais de produção ou apenas porque sentimos que precisamos deles. Porque sempre foi assim.
É preciso investigar o verdadeiro valor dos desenhos 2D nos processos de produção modernos, em que os dados de modelos 3D são a principal fonte de informações para sistemas de fabricação. O objetivo é compreender o papel dos desenhos 2D e 3D, e como podemos capturar o valor de ambos para finalmente atualizar a definição da engenharia e a fabricação modernas.
O papel dos desenhos 2D na engenharia e fabricação digital
Embora os modelos e dados 3D tenham, sem dúvida, revolucionado os processos de projeto e fabricação, os desenhos 2D continuam sendo um aspecto fundamental da documentação de engenharia. Durante anos, os desenhos 2D serviram como uma linguagem universal que permitiu uma comunicação eficaz com fornecedores, partes interessadas e equipe de controle de qualidade. Eles forneceram um meio tangível e facilmente compartilhável, possibilitando discussões e esclarecimentos. Além disto, são o processo “tradicional” final que permanece no mundo digital para a comunicação entre engenharia e fabricação.
Porém, nos processos de fabricação atuais, os desenhos 2D parecem ser apenas um ponto de referência e não a principal forma de comunicação. Eles servem como uma referência legível para transmitir informações críticas de projeto. Informações como: dimensões, tolerâncias e relações geométricas. Isso tudo destinado à equipe de fabricação. Mas não necessariamente os meios para sistemas ou máquinas CAM, pois esta é a função de um modelo 3D. Então, alguém poderia pensar que os desenhos acabariam desaparecendo, certo? Não tão rápido.
Desenhos 2D ainda possuem benefícios
A realidade é que os desenhos 2D permanecem por um dos principais motivos: familiaridade, não função.
Os desenhos 2D continuam a ser relevantes devido à sua compatibilidade e familiaridade em toda a indústria. Sejamos honestos, todos hesitamos em mudar. Fabricantes, fornecedores e pessoal de garantia de qualidade utilizam desenhos 2D há décadas e desenvolveram um profundo conhecimento de como interpretá-los e investiram significativamente em práticas de desenho para garantir qualidade e comunicação adequadas. É difícil mudar a natureza humana ou sentir que um desenho 2D ainda é necessário, embora forneça pouco ou nenhum valor para o processo de fabricação real.
Outro aspecto que chama a atenção é a preferência geracional pelo 2D. A maioria dos gestores e partes interessadas hoje cresceram na produção utilizando 2D, por isso faz sentido que se sintam confortáveis ao olhar para este método de comunicação; no entanto, com a crescente lacuna de competências e as pessoas que crescem com o 3D, espera-se que isso mude à medida que se tornam gestores e partes interessadas.
O papel dos modelos 3D na engenharia e fabricação digital
Com os avanços da modelagem 3D, CAM e robótica, a representação digital de um produto tornou-se cada vez mais detalhada, intuitiva e repleta de mais informações do que um desenho 2D poderia transmitir. Os modelos 3D fornecem uma representação visual que permite aos engenheiros e designers validar a forma, o ajuste e a função de um produto antes de ele entrar em produção.
Por outro lado, eles fornecem dados e informações valiosas aos sistemas CAM que são incorporados nos modelos 3D para gerar percursos de ferramenta, simular operações de usinagem e acionar máquinas CNC diretamente, o que revolucionou os processos de fabricação. Essa integração perfeita entre modelos 3D e sistemas CAM acelerou os processos de fabricação, melhorou a precisão e reduziu os prazos de entrega.
Fora do CAM e da programação robótica, os metadados que vêm com um modelo 3D são essenciais para serem transmitidos a sistemas de negócios como ERP, MES, Qualidade e Listas de Fabricação ou Listas de Serviço para garantia. Para otimizar o processo de engenharia até a fabricação 3D, muitas organizações estão adotando práticas MBD.
Como o MBD pode ajudar a sua empresa
MBD é uma abordagem que aproveita as informações de fabricação de produtos 3D como o principal meio para transmitir informações do produto. Envolve a incorporação de informações críticas de fabricação e inspeção diretamente no modelo 3D, eliminando a necessidade de desenhos 2D separados.
Ao utilizar o 3D, as organizações podem alcançar uma transição perfeita de comunicação da engenharia para a fabricação. Essa integração reduz erros de interpretação humana, elimina redundância e facilita processos de automação posteriores em sistemas de fabricação.
Além disso, a adoção de práticas MBD melhora a colaboração e a comunicação multifuncional. Designers, engenheiros e equipes de fabricação podem acessar o modelo 3D e as informações associadas, facilitando um melhor entendimento e alinhamento entre departamentos. Afinal, ver e interpretar coisas em 3D é mais intuitivo, é da natureza humana interpretar objetos em três dimensões em vez de duas. Além disso, a interatividade e o realce dinâmico entre o modelo e o PMI oferecem uma vantagem significativa quando comparado a um desenho estático. Este ambiente colaborativo e interativo promove a inovação, reduz os prazos de entrega e melhora a qualidade geral do produto.
Embora os modelos 3D e os sistemas downstream tenham transformado o cenário da engenharia e da fabricação, os desenhos 2D continuam a ter um valor significativo no ambiente de fabricação moderno.
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